sexta-feira, 28 de agosto de 2009

É tempo de me fazer, eu sei.

Uma vez no programa Roda Viva em 1991, Caio Fernando Abreu junto com outros jornalistas para entrevistar e homenagear a grande escritora Raquel De Queiroz. Durante o programa, disse que estava muito constrangido de estar ali porque concluía que a escritora tinha colaborado de forma muito negativa para o País, o que chocou a todos. “Estou me sentindo extremamente constrangido de estar na posição de render homenagem a um tipo de ideologia que eu profundamente desprezo”.

"...Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la..."
trecho de uma carta de Caio F. para Hilda Hilst sobre Clarice Lispector .

Continuo na dúvida de quem é Caio F. Um burguês decadente, um invejoso, um furacão de palavras, uma necessidade, uma ajuda, uma ferida aberta.



João Henrique

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A paixão dos suicidas

Sabe quando cansa? O Bandeira sabe.

Não sei se o Manuel Bandeira não tem a fama que merece. Fico em dúvida, mas ás vezes acho ele o maior poeta brasileiro. Ele foi fundamental no movimento modernista brasileiro com o seu poema Os Sapos foi lido na Semana de 22 inclusive.

Poetas dprimidos podem ser chatos, poetas que falam muito sobre tristeza também, mas com ele é diferente. Seu principal assunto é a melancolia e ele é desesperançoso mas, sempre que eu leio, saio mais forte e mais (pois é) esperançoso! Em baixo esta, justamente, Desesperança, um dos meus preferidos. E ao lado ele, por Portinari.

Ele falou de alguns temas mais socias e cotidianos, como em Libertinagem. Teve também alguuns poemas musicados, com Rondó Do Capitão pelos também geniais Secos e Molhados (http://www.youtube.com/watch?v=Y8DkR8dWZGY)

Mas se cansar leia Bandeira, o poeta que faz versos como quem morre.



Desesperança, Manuel Bandeira


Esta manhã tem a tristeza de um crepúsulo.

Como dói um pesar em cada pensamento!
Ah, que penosa lassidão em cada músculo. . .

O silêncio é tão largo, é tão longo, é tão lento
Que dá medo... O ar, parado, incomoda, angustia...
Dir-se-ia que anda no ar um mau pressentimento.

Assim deverá ser a natureza um dia,
Quando a vida acabar e, astro apagado,
Rodar sobre si mesma estéril e vazia.

O demônio sutil das nevroses enterra
A sua agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a morte chamar-me e esse apelo me aterra...

Minha respiração se faz como um gemido.
Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.

Por onde alongue o meu olhar de moribundo,
Tudo a meus olhos toma um doloroso aspeto:
E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.

Vejo nele a feição fria de um desafeto.
Temo a monotonia e apreendo a mudança.
Sinto que a minha vida é sem fim, sem objeto...

- Ah, como dói viver quando falta a esperança!


Gabriel

domingo, 16 de agosto de 2009

Força, Lygia, Força.

"Gosto muito das pessoas mas essa necessidade voraz que às vezes me vem de me libertar de todos. Enriqueço na solidão, fico inteligente, graciosa e não esta feia ressentida que me olha no fundo do espelho. Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo a alegria está instalada em mim"
"As meninas" Lygia Fagundes Telles.

Eu não lembro onde nem quando li alguma coisa da Lygia falando das suas palavras-facas e a força das suas personagens, de cara eu achei isso uma bobagem mas por via das dúvidas resolvi ler um livro dela.. "As Meninas" (também adaptado pro cinema dirigido por Emiliano Ribeiro, 1995).
Bom é impressionante como cada palavra do livro tem seu sentido especifico na conjunto da obra, é como se cada palavra tivesse ali com um valor próprio em que juntas formam um campo impenetrável de sentimentos. Uma simples preposição por exemplo não é uma mera preposição e sim um elo de força que se prende com todo o resto gramatical formando o todo do livro .

O livro é definitvamente um clássico brasileiro da literatura contemporanea.
E retiro todas as minhas injurias a Lygia que uma vez eu já disse.

Até onde eu sei própria infelizmente estava internada no hospital Sírio-Libanés..mas parece que ela voltou pra casa, não sei direito.
Força Lygia, força.

João Henrique!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Maldito!

Gosto de escritores malditos, rebeldes, rejeitados em sua sociedade e que escreveram temas e coisas que poucos queriam ouvir, mas que era necessário.

Essa preferência é normal, não vou aqui julgar outros estilos (que também gosto), mas toda sociedade precisa de um rebelde.

Marquês de Sade é uma de minhas obsessões literárias, seus livros são caros e raros em sebos. Mas valem a pena. Ele era rico, aristocrata e com titulo de nobreza, mas foi perseguido desde os monarquistas até o Napoleão.

Ser libertino e provocante na França do século 18 não é fácil, nem normal.Tanto que ele passou quase a vida toda na cadeia, escrevendo ''atrocidades sexuais'' para alguns (coisas que ele também praticava, diga-se)

O que realmente importa em sua obra não é a putaria rolando solta mas, sim, como e por que ela é usada. Pense em um burguês na França monárquica em 1800, todo engomado e defendendo sua pose e poder perante a todos, ostentando titulos e posses, em um país desigual. Agora imagine ele, pensando sempre em sexo sujo, em uma orgia homossexual sodomizando criados, matando jovens puras e transando com membros da própria familia. Tchau credibilidade, tchau pose.

Tchau, Gabriel.