domingo, 25 de outubro de 2009

trabalhos e trabalhos, lip II

Vendaval

Foi coragem e necessidade de definir quem eu era. O tempo de me limitar a você acabara. Não sabia mais se você era vaidade ou urgência. Destruir-te era preciso para encontrar-me. Agora lhe vejo em pedaços e sinto orgulho de tudo que sou. Era eu ou você, espelho meu.


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Epifânia do Cigarro
Mais uma vez sózinho no escuro, em minha poltrona, no meu quarto; acendo outro cigarro e me perco em meio à fumaça que asfixia minha mente, minhas idéias, minha memória.
Não sei ao certo quanto o cigarro já me tirou, sei porém quanta dor eu ganhei.
Companheiros, amores, momentos... tudo passou a ser mais dificil, até uma caminhada qualquer tirava o meu folego.
O cigarro é tudo o que me sobrou. Somos só nós. Tudo se foi, como fumaça.


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Conto Gravado


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(é chato falar que eu não gosto de nenhum dos textos? bom trabalhar em grupo ou pressão não é meu forte)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Selvageria

Levar a vida mediocremente nunca havia sido um problema para mim. O conforto me era necessário. Eu expulsara tudo o que me fazia sentir vivo por dentro, não havia dores de um amor romântico, não existia lembranças de noites de verão, eu não lembrava como minha risada soava. Eu não possuía nada. A metafísica era minha inimiga. Mas de uns tempos para cá, aquela monotonia do dia a dia ultimamente começara a me incomodar. Aos poucos fui exigindo mais de mim até chegar a proporções surreais. Eu agora ansiava por liberdade, por uma loucura qualquer, queria sofrer. Era hora de aprender a gritar.

Resolvi sair de casa e ir até a Praça do Bem-feitores, encontrar quem sabe por acaso um excesso de felici
dade qualquer e roubá-lo para mim.

A praça estava gelada e vazia, a brisa da manhã tentava sem sucesso esquentar aquele lugar que parecia mais um
cenário de filme de terror.

Quando passava pelos balanços que chiavam como um
coro de desespero senti uma estranha pontada nas costas. De início era uma dor suportável. Com o passar dos segundos a dor aumentava como uma faca saindo de dentro de mim, eu estava queimando por dentro, não conseguia gritar, chorar nem ao menos implorar pelo fim. Eu estava sendo perfurado ao avesso. Com o passar do tempo, a dor se incorporou em mim, senti certo prazer no meu sofrimento, aquela selvageria era antes de tudo minha essência. Eu era a dor. Pousei as mãos nas minhas costas e senti uma penugem estranha, molhada como um corvo que acabara de nascer. Eu agora tinha um par de asas; negras, enormes, gritantes por alguma coisa maior do que eu.

Olhei diabolicamente para elas, tão imponentes como se possuíssem vida própria. Uma pena foi caindo até o chão numa valsa hipnotizante, peguei-a ain
da no ar, senti seu cheiro, coloquei junto ao meu peito. Abri meu par de asas devagar, timidamente sai voando, criei meu arco-íris e fui ao destino do incontrolável. Fui ao meu encontro.


João Henrique Valentim