quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sabedoria

Tu que vives e passas sem saber o que é a vida nem por que é
Ignoras todos os sim e que pensando choras sobre o mistério do teu próprio ser
Não sofras mas a espera das auroras da suprema verdade a aparecer

A verdade das coisas é o prazer que elas nos possam dar a flor das horas
Essa outra que desejas, se ela existe, deve ser muito fria e quase triste
Sem a graça encantada da incerteza

Vê que a vida afinal, sombras, vaidades
É bela! É louca e bela
E que a beleza é a mais generosa das verdades

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ratos, ratos!


Nessas férias resolvi ler "O seminário dos ratos" da querida Lygia Fagundes Telles. Desde "As Meninas" eu mudei completamente minha relação com essa escritora, confesso que antes havia um certo receio no ar relacionado a falta de profundidade de suas obras, qualquer coisa comparativa com Lispector que me deixava indeciso se devia ou não lê-la. No entanto a sutileza de suas palavras são implicitamente profundas. É que com carinho a gente perde o medo de se afundar.
Enfim, O livro é bem rapidinho com vários contos (destaque para os contos "WM" e " A sauna"), os quais foram classificados por inúmeros jornalistas da década de 70 (época em que o livro foi publicado) como contos pertencentes ao movimento do realismo fantástico. Eu na minha timidez ousada arrisco dizer que não, não é nada disso. Lygia não resolve nos transportar para outra realidade, e sim brincar com nossos valores metaforizados numa fantasia vivida. Assim, não é você que é levado para outro universo, você apenas olha para o lado e enxergar um outro universo ao seu redor, o universo dos ratos.

João Henrique Valentim
http://skoob.com.br/usuario/145497

quinta-feira, 22 de julho de 2010

PULP




Cada um tem seu cinema perfeito. Cada referência adaptada de determinada forma ao mesmo tempo define um estilo como homenageia outros. Seja o que for falado, Quentin Tarantino é sempre coerente aos seus princípios artísticos. Seus filmes podem ter muita violência (as vezes) e podem ter coisas estranhas, mas tudo tem um motivo, em Tarantino nada é gratuito


Desde os créditos iniciais, por mais que pareça uma simples conversa, as letras lembram os faroestes, sejam os spaghetti ou os com John Wayne, os clássicos americanos dessa mesma época ou os italianos de terror, alem do que mais define a arte de Tarantino.: a cultura popular americana. Hugo Stiglitz nos mostra isso logo em sua apresentação em Bastardos Inglórios e John Travolta...só por estar la. Todos os Big Kahuna Burgers não nos deixam mentir aqui...

Suas citações são claras até certo ponto, e elas inclusive fazem questão de serem assim. Lucy Liu fazendo jorrar sangue da cabeça cortada de seu ‘’sócio’’, a suástica cravada em uma floresta deserta, a loira líder de torcida em seu mini uniforme amarelo , em mangá o os tiros nas pernas por debaixo da cama, as encaradas e planos longos dos pés, seus duelos (sejam japoneses sejam italianos) a morte repetida em câmera lenta e as lutas em preto e branco, o conteúdo não revelado da mala de Pulp Ficiton, a Noiva surrada na igreja.. tudo ou é alguma outra coisa revisada ou é criada apartir disso, o trash pode ser deixado de lado até certo ponto (o suficiente para fazer filmes melhores em muitos aspectos que os de seus ídolos) e sua linguagem é estabelecida e reforçada a cada nova obra.

Vamos de duelos japoneses para tiroteios italianos em um corte, de lembranças claras mas distantes a piadas obvias e ao mesmo tempo hilárias. Seja por Sergio Leone, Kinji Fukasaku, Howard Hawks, Spielberg, Godard, Coens, Cash ou até, e melhor de todos, o próprio Tarantino. Congelamos com o assovio de Ellen no mercado de Tenessee, e somos enganados, aliviados e feitos de bobos ao se revelar toque de Rosário Dawson, A Prova de Morte. Seja com a teoria da virgem Madona ou de seu licor favorito, Quentin esta la lembrando a todos nós da grande brincadeira que tudo é.





Ainda assim, o cinema é coisa séria. Dando medo com um carro assassino, metralhando Hitler, recitando o Ezekiel 25-17. Ou seja, há o plano de fundo para suas historias e tudo é filmado magistralmente, os planos estão em perfeita sintonia com as atuações, com a música com a coreografia e, principalmente, com o roteiro. Nada escapa em Pulp Ficiton (só o que você deixar) e o que escapa esta bem amarradinho em Bastardos Inglórios. Se o filme termina com ‘’essa é a minha obra prima’’ após anos de tentativas e acertos, ele sabe o que faz.


Aqui o parênteses mais importante (para mim inclusive haha). Tarantino Experience ou qualquer disco de suas trilhas sonoras fecham o pacote que é o seu cinema. Ennio Morricone já brilhou muito com Sergio Leone, e Tarantino sabe o que fazer para deixa-lo totalmente diferente mas saudoso ao mesmo tempo. Com Shoshanna refletida na suástica prestes a se pintar para a guerra e acabar com a própria, aos poucos sobe Bowie. Com o twist de Chuck Berry, o surf seja de Dick Dale ou The Tornadoes, até o disco de KC. A Experience de Quentin não tem limites, e por saber disso, dela nascem tantas coisas.

Até os créditos finais em que, após a imagem do vilão perseguidor que nunca morre ser nocauteado pelas moças perseguidas, um corte seco e um The End. ‘’Tarantino é uma puta!” e aplausos. Musica psicodélica e flahs de mulheres do mesmo nível, a líder de torcida em seu mini uniforme amarelo e os cabelos loiros de óculos escuros. Ainda as muitas subliminaridades de Tarantinos Mind e de seus intermináveis delírios cinematográficos






gabriel

domingo, 24 de janeiro de 2010

Tão bonito.


Ganhei da minha mãe de natal quase que subitamente um livro que desde sempre eu tinha vontade de ler, "perto do coração selvagem" C. Lispector, além de ser Dela o nome me deixava bastante intrigado, uma verocidade calma. calma e veroz.
Deixei o dito cujo por último entre os livros com o qual fui presenteado, talvez pelas expectativas que eu esperava do livro ou talvez até por um certo receio de me ler mais uma vez nas palavras Dela...


"Deus meu, eu vos espero. Deus, vinde a mim. Deus, brotai no meu peito, eu não sou nada e a desgraça cai sobre minha cabeça e eu só sei usar palavras e as palavras são mentirosas e eu continuo a sofrer, afinal o fio sobre a parede escura. Deus vinde a mim e não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas e, Deus, por que não existes dentro de mim? por que me fizeste separada de ti? Deus, vinde a mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e eu te espero todos os dias e todas as noites, ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer e apenas assisto ao meu esgotamento em cada minuto que passa, sou só no mundo, quem me quer não me conhece, quem me conhece me teme e eu sou pequena e pobre, não saberei que existi daqui a poucos anos, o que me resta para viver é pouco e o que me resta para viver no entanto continuará intocado e inútil, por que não te apiedas de mim, que não sou nada? dai-me o que preciso. Deus, dai-me o que preciso e não sei o que seja, minha desolação é funda como um poço e eu não me engano diante de mim e das pessoas, vinde a mim na desgraça e a desgraça é hoje, a desgraça é sempre, beijo teus pés e o pó dos teus pés, quero me dissolver em lágrimas, das profundezas chamo por vós, vinde em meu auxílio que eu não tenho pecados, das profundezas chamo por vós e nada responde e meu desespero é seco como as areias do deserto e minha perplexidade me sufoca, humilha-me, Deus, esse orgulho de viver me amordaça, eu não sou nada, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós..."




Pensei em enscrever assim: "O melhor livro" mais preferi trocar o adjetivo por bonito.
então assim: "O livro mais bonito, o livro "mais" meu".


João Henrique