terça-feira, 29 de setembro de 2009

Calvino e suas Cidades

" - O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existe duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo . A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."
CIDADES INVISÍVEIS - ITALO CALVINO


Gosto de autores que nos trazem uma certeza. Calvino é o realismo mágico que não assusta. É a plenitude em cada palavra. A divisão exata de tudo aquilo que queríamos ser e tudo aquilo que in(feliz)mente somos.

Agora me diz, qual é a sua cidade?

João Henrique Valentim

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Mal Amados


''O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de ida
de, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.


O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.


O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte. ''

João Cabral



E o que resta para o despedaçado Joaquim é ouvir os Nostálgicos e Fantosiosos, na estrada chei
a de pedregulhos de João Cabral, com a esperança do pequeno garoto atrás de sua giganta nos sonhos de Fellini.

gabriel,