Resolvi sair de casa e ir até a Praça do Bem-feitores, encontrar quem sabe por acaso um excesso de felicidade qualquer e roubá-lo para mim.
A praça estava gelada e vazia, a brisa da manhã tentava sem sucesso esquentar aquele lugar que parecia mais um cenário de filme de terror.
Quando passava pelos balanços que chiavam como um coro de desespero senti uma estranha pontada nas costas. De início era uma dor suportável. Com o passar dos segundos a dor aumentava como uma faca saindo de dentro de mim, eu estava queimando por dentro, não conseguia gritar, chorar nem ao menos implorar pelo fim. Eu estava sendo perfurado ao avesso. Com o passar do tempo, a dor se incorporou em mim, senti certo prazer no meu sofrimento, aquela selvageria era antes de tudo minha essência. Eu era a dor. Pousei as mãos nas minhas costas e senti uma penugem estranha, molhada como um corvo que acabara de nascer. Eu agora tinha um par de asas; negras, enormes, gritantes por alguma coisa maior do que eu.
Olhei diabolicamente para elas, tão imponentes como se possuíssem vida própria. Uma pena foi caindo até o chão numa valsa hipnotizante, peguei-a ainda no ar, senti seu cheiro, coloquei junto ao meu peito. Abri meu par de asas devagar, timidamente sai voando, criei meu arco-íris e fui ao destino do incontrolável. Fui ao meu encontro.
João Henrique Valentim
E em milhares de horizontes, avistei você, e quis voar em sua companhia os próximos dias, sem rumo, sem sentido, sem qualquer utopia. Pois, para a minha alegria, bastava vc em minha vida.
ResponderExcluir