domingo, 24 de janeiro de 2010

Tão bonito.


Ganhei da minha mãe de natal quase que subitamente um livro que desde sempre eu tinha vontade de ler, "perto do coração selvagem" C. Lispector, além de ser Dela o nome me deixava bastante intrigado, uma verocidade calma. calma e veroz.
Deixei o dito cujo por último entre os livros com o qual fui presenteado, talvez pelas expectativas que eu esperava do livro ou talvez até por um certo receio de me ler mais uma vez nas palavras Dela...


"Deus meu, eu vos espero. Deus, vinde a mim. Deus, brotai no meu peito, eu não sou nada e a desgraça cai sobre minha cabeça e eu só sei usar palavras e as palavras são mentirosas e eu continuo a sofrer, afinal o fio sobre a parede escura. Deus vinde a mim e não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas e, Deus, por que não existes dentro de mim? por que me fizeste separada de ti? Deus, vinde a mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e eu te espero todos os dias e todas as noites, ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer e apenas assisto ao meu esgotamento em cada minuto que passa, sou só no mundo, quem me quer não me conhece, quem me conhece me teme e eu sou pequena e pobre, não saberei que existi daqui a poucos anos, o que me resta para viver é pouco e o que me resta para viver no entanto continuará intocado e inútil, por que não te apiedas de mim, que não sou nada? dai-me o que preciso. Deus, dai-me o que preciso e não sei o que seja, minha desolação é funda como um poço e eu não me engano diante de mim e das pessoas, vinde a mim na desgraça e a desgraça é hoje, a desgraça é sempre, beijo teus pés e o pó dos teus pés, quero me dissolver em lágrimas, das profundezas chamo por vós, vinde em meu auxílio que eu não tenho pecados, das profundezas chamo por vós e nada responde e meu desespero é seco como as areias do deserto e minha perplexidade me sufoca, humilha-me, Deus, esse orgulho de viver me amordaça, eu não sou nada, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós..."




Pensei em enscrever assim: "O melhor livro" mais preferi trocar o adjetivo por bonito.
então assim: "O livro mais bonito, o livro "mais" meu".


João Henrique

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