sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A paixão dos suicidas

Sabe quando cansa? O Bandeira sabe.

Não sei se o Manuel Bandeira não tem a fama que merece. Fico em dúvida, mas ás vezes acho ele o maior poeta brasileiro. Ele foi fundamental no movimento modernista brasileiro com o seu poema Os Sapos foi lido na Semana de 22 inclusive.

Poetas dprimidos podem ser chatos, poetas que falam muito sobre tristeza também, mas com ele é diferente. Seu principal assunto é a melancolia e ele é desesperançoso mas, sempre que eu leio, saio mais forte e mais (pois é) esperançoso! Em baixo esta, justamente, Desesperança, um dos meus preferidos. E ao lado ele, por Portinari.

Ele falou de alguns temas mais socias e cotidianos, como em Libertinagem. Teve também alguuns poemas musicados, com Rondó Do Capitão pelos também geniais Secos e Molhados (http://www.youtube.com/watch?v=Y8DkR8dWZGY)

Mas se cansar leia Bandeira, o poeta que faz versos como quem morre.



Desesperança, Manuel Bandeira


Esta manhã tem a tristeza de um crepúsulo.

Como dói um pesar em cada pensamento!
Ah, que penosa lassidão em cada músculo. . .

O silêncio é tão largo, é tão longo, é tão lento
Que dá medo... O ar, parado, incomoda, angustia...
Dir-se-ia que anda no ar um mau pressentimento.

Assim deverá ser a natureza um dia,
Quando a vida acabar e, astro apagado,
Rodar sobre si mesma estéril e vazia.

O demônio sutil das nevroses enterra
A sua agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a morte chamar-me e esse apelo me aterra...

Minha respiração se faz como um gemido.
Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.

Por onde alongue o meu olhar de moribundo,
Tudo a meus olhos toma um doloroso aspeto:
E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.

Vejo nele a feição fria de um desafeto.
Temo a monotonia e apreendo a mudança.
Sinto que a minha vida é sem fim, sem objeto...

- Ah, como dói viver quando falta a esperança!


Gabriel

Um comentário:

  1. Cara, gostei muito da sua descrição sobre o Manuel Bandeira. Ele é ótimo. Os pouquíssimos escritos que li dele – nas aulas de Literatura ou Texto – são sensacionais. Ele é a prova viva de que a melancolia não é necessariamente um aspecto negativo quando você sabe lidar com ela. Eu ultimamente ando muito melancólico, mas satisfeito por estar assim, pois só assim consigo ver o mundo de outra dimensão, de uma mais realista e menos surreal – tudo isso devem ser crises da adolescência --‘ mas isso não importa.

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